Com o constante aumento da taxa básica de juros (Selic), em 12,25% ao ano, as empresas de micro e pequeno porte tomam empréstimos com valores mais altos e de curto prazo, já que não possuem acesso ao mercado externo, de capitais e repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para especialistas, a consequência é aumento da inadimplência e redução da margem de lucro desse segmento, fato que deve se estender até o final do segundo semestre.
De acordo com dados do Banco Central, em capital de giro a taxa de juros no ano cresceu 2,5 pontos percentuais (p.p.), de 27,3% ao ano em dezembro para 29,8% em abril. Em 12 meses até abril, a taxa aumento em 1,3% ponto percentual, de 28,5% para 29,8%.
Já em conta garantida, a elevação totalizou 11 p.p. no ano, de 95,7% ao ano em dezembro de 2010 para 106,7% em abril de 2011. No total de 12 meses, a variação chegou a 25,3 p.p, de 81,4% a.a. em abril de 2010 para 106,7% no mesmo mês deste ano.
Para o gerente de Indicadores de Mercado da Serasa Experian, Luiz Rabi, a alta dos juros interfere diretamente no capital de giro. “Primeiro ponto é o encarecimento do capital, já que as PME não têm alternativa como as grandes empresas, com o BNDES e captação externa. Não tem escapatória: quem fica na rede bancária paga mais caro.”
Em decorrência do aumento de custo, pontuou Rabi, as empresas precisam replanejar seus negócios, pois a economia brasileira está em desaceleração. “O impacto da taxa de juros não é repassado ao preço, mas para a margem de lucro.”
O professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, concordou com o impacto no faturamento. “Além de interferir no custo, as empresas terão de encarecer e diminuir o parcelamento aos clientes. Com isso, vão perder no faturamento.”
Outra consequência é o aumento do calote. Segundo Serasa Experian, houve aumento, pelo sexto mês consecutivo, de 2,1% em abril em relação a março. “As empresas sofrem impacto da inadimplência dos clientes, o que também gera calote dessas companhias”, disse Leite.
No acumulado do ano, as medidas macroprudenciais geram reflexos no volume, segundo a Serasa Experian. A demanda de pessoa jurídica subiu 1,1%, ritmo menor do que o do mesmo período de 2010, de 10,8%.
A desaceleração também é observada na comparação por faixas de valor. Em financiamentos até R$ 100 mil, direcionados para pequenas empresas, a variação do saldo chegou a 2,5%, de R$ 140,9 bilhões em dezembro de 2010 para R$ 144,3 bilhões em março de 2011. Já nos financiamentos até R$ 10 milhões, a variação foi de 3%, de R$ 366,1 bilhões no último mês de 2010 para R$ 377,2 bilhões em março deste ano. No total de 12 meses, a alteração foi de 24,3%.
Ao ser questionado sobre o impacto negativo do aumento da taxa Selic nas empresas, o especialista Luiz Rabi declarou que a medida é necessária. “É ruim para a atividade econômica e para o caixa das empresas, mas é um remédio amargo que tem de ser tomado para conter a inflação, que é pior para todo mundo.”
Fonte: DCI
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